"Pode dizer-se, além disso, que do ponto de vista filosófico os princípios espirituais especificamente modernos remontam, antes de tudo, a uma dupla exigência já manifesta em Lutero, e abertamente declarada em Rousseau, perfeitamente explícita em Kant e nos seus sucessores e que eu me permitirei chamar ao mesmo tempo imanentista e transcendentalista, ligando a esses termos, em si mesmos bastante vagos, a significação seguinte: Princípio imanentista: a liberdade e a interioridade consistem essencialmente numa oposição ao não-eu, numa reivindicação de independência do 'dentro' em relação ao 'de fora'; verdade e vida devem ser por isso unicamente procuradas no interior do sujeito humano, toda a acção, toda a ajuda, toda a regra, todo o magistério que provenha do outro (do objecto, da autoridade humana, da autoridade divina) sendo um atentado contra o espírito. Princípio transcendentalista: por isso mesmo e reciprocamente, não existe mais dado que nos meça e nos domine, mas é o nosso fundo íntimo que transcende e comanda todo o dado.(...)"
Jacques Maritain (in "Antimoderne")
Este resumo e estas fórmulas imperfeitas, nas palavras do autor, são uma tentativa de explicar, filosóficamente, o Moderno, tal como se apresentava no primeiro quartel do século XX.
O que ressalta é o triunfo do que hoje chamamos de individualismo e das ideias daqueles pensadores. O modo como essas ideias moldaram os espíritos é impossível de determinar, sendo o mais provável que todos eles se inspirassem no mundo em transformação em que viviam, e, por isso, não se pode dizer que sejam eles os verdadeiros criadores dessas ideias.
Podíamos, numa das muitas interpretações possíveis, seguir o rasto material dessas 'intuições' antes de serem ainda ideias filosóficas, como fez Régis Debray em "Deus: um itinerário".
O que 'se mete pelos olhos dentro' é que, na actualidade, esse processo de atomização social, aquilo a que Maritain chama de princípio imanentista, se encontra numa fase de aceleração vertiginosa, não por causa de nenhuma ideia ou ideologia, não devido à acção de líderes mais ou menos esclarecidos, ou de personalidades revolucionárias, mas graças ao movimento espontâneo das forças que nós próprios criámos.
Como diziam os Pink Floyd, "Welcome to the machine!"
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