quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

GÉNESIS

 

"O SENHOR reconheceu que a maldade dos homens era grande na Terra, que todos os seus pensamentos e desejos tendiam sempre e unicamente para o mal. "

(Génesis)

Mas é Deus, ele próprio, que coloca a tentação no caminho do homem, ao estabelecer a proibição e, de cada vez que quer provar a fidelidade dos israelitas, 'endurece o coração do faraó'. Não, a 'peça' não foi escrita por nós, e o mais difícil de provar foi sempre a liberdade dos homens, perante um Deus que lhes 'sonda os rins e o coração'.

Esta vigilância por parte de Deus justifica-se plenamente, já que os nossos pensamentos e desejos tendem 'sempre e unicamente para o mal. Podemos actualizar esta 'fatalidade', dizendo que, na verdade, o mal é o mundo. O mundo distrai de Deus, o mundo extenua o trabalhador e transforma a classe média em servidora do 'bezerro de oiro'. Os do topo da pirâmide social, aos olhos de Deus, são os piores, mas estes também só acreditam no mundo que tão magnificamente os recompensa.

Antes de nascer, o homem já foi acusado daquelas tendências. Sem a intervenção da graça divina (a fé não pode ser uma garantia, pois diminuiria a 'liberdade' do Criador) isto é, duma decisão exclusivamente divina, não há mercê.

Mas podemos comparar a profecia das profecias, que inspirou todas as outras, pelo menos neste hemisfério, com a palavra moderna: a do profeta Marx, que falhou em toda linha desde que saiu da crítica do capitalismo.

O mal de que fala o Livro do Génesis não desapareceu, porque o judeo-cristianismo enforma todos os nossos símbolos e toda a nossa mitologia. Não surgiu, entretanto, um outro grande Livro para levar mais longe a nossa caminhada. As condições não favorecem o seu aparecimento. Entrámos numa nova era em que definir o mal em relação a Deus, a uma obediência natural, à fé na 'salvação', equivale a falar uma língua morta. Venerável, mas morta.

É a religião convertida em cultura que parece poder alcançar o 'ecuménico'. A homenagem a Mandela mostrou um pouco esse fenómeno, para lá da sabedoria do "de mortuis nil nisi bonum" (dos mortos nada a não ser bem)

 


 

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