Lúcifer
"Tal como no furacão que varre a planície, os homens fogem da vizinhança de algum olmo gigante e solitário, cuja altura e robustez o torna tanto mais inseguro, porque é a melhor marca para os raios; assim perante essas últimas palavras de Ahab, muitos marinheiros correram para longe dele, apavorados."
"Moby Dick" (Herman Melville)
Nesta magnífica passagem, Melville dá-nos a melhor das parábolas sobre o orgulho humano.
A criatura que desafia o que a ultrapassa e se pretende medir com o que não compreende merece a solidão do olmo e o raio que o fulmina.
É ainda a história de Lúcifer, o anjo caído. Todavia, enquanto a árvore se fez tição e lenha, o anjo tornou-se senhor dum outro domínio.
É curioso pensar que neste mito, não há arrependimento, nem verdadeiro castigo, mas uma divisão do trabalho necessária.
Castigados, são todos os que vão parar às regiões inferiores, mas o senhor do lugar exulta com a máquina dos suplícios de que dispõe.
Porque alguém se tinha de encarregar do trabalho sujo, enquanto no Paraíso a corte canora passeia em círculos à volta do trono, como numa Versalhes celeste, foi preciso criar uma casta de intocáveis.
Contentes com a sua sorte, orgulhosos e cegos, como convém à justiça.
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