O Papa e o Inquisidor (Jean-Paul Laurens) |
Para o bilionário à procura de mais um bilião (...), o dinheiro é um substituto para os pontos numa escala de respeito próprio e realização."
Daniel Kahneman
O egoísmo é um sentimento mais natural e mais espalhado que o senso comum. O facto de termos menos do que o bilionário não nos torna mais generosos, nem nos impede de ter 'uma escala de respeito próprio e realização'.
Mas talvez seja, de facto, mais difícil a um rico 'ganhar o Céu' do que um camelo passar pelo buraco de uma agulha, como diz o Evangelho, isto, sem ser necessariamente mais egoísta do que os outros. Pode-se não querer saber de mais ninguém, com a bolsa cheia ou meio-cheia.
Com o poder (mas não é o dinheiro o símbolo do poder, sobretudo, numa sociedade como a nossa?) passa-se a mesma coisa. A prova é que quase todos os que conseguem ter na mão um pequeno poder se comportam, em termos relativos, como os muito poderosos. O operário que se torna burocrata, não menos que o liberal do 'Terceiro Estado' que chega à 'Convenção'.
Talvez seja necessário prestar mais atenção ao enquadramento e à máquina que nos 'saiu das mãos', do que à moral, pois quem não é livre não tem moral.
São raríssimos os que, como Nelson Mandela, não são estropiados pelo poder. Por isso nunca se viu, como agora, tanta homenagem hipócrita daqueles mesmos que o meteriam na prisão, 'se ele voltasse à terra', como na fábula do Grande Inquisidor nos "Irmãos Karamazov".
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