"(...) sem fazer grandes análises, repetia à saciedade que as novas teorias tinham para ele apenas o valor de uma descrição estatística, o que não correspondia nem à ideia que ele fazia da natureza das coisas ("Deus não joga aos dados"), nem à exigência lógica do princípio de causalidade, que uma ciência digna deste nome devia satisfazer."
"Einstein" (Jacques Merleau-Ponty)
Corresponde isto a uma desvalorização das 'novas teorias'? Deveremos considerar que a 'ciência digna deste nome' acabou com os alvores do século XX, uma vez que a causalidade deixou de ser necessária para avançar no desconhecido?
Não é presumível que fosse esse o entendimento do autor da teoria da relatividade. A sua busca apaixonada não poderia inspirar-se numa 'descrição estatística'. Por outro lado, o sonho de uma única teoria para explicar as leis do universo é mais estético do que 'científico'. Einstein, nisso, era - não se pode negar - quase um discípulo de Platão.
A sua referência à estatística parece indicar que a ciência deixou de ter certezas, que tem de socorrer-se doravante de um instrumento característico das ciências sociais, conhecidas, precisamente, por não serem 'exactas'. Esta tendência levar-nos-ia naturalmente a pensar que a física do passado, a que devemos os grandes impulsos do desenvolvimento técnico, seria como o lastro do foguetão que teríamos de sacrificar para abrir os novos horizontes da humanidade.
Que significado tem, pois, a invocação do 'princípio da causalidade' e a sugestão de que o contributo do próprio Einstein não é ciência ainda (ou que já não é ciência?).
0 comentários:
Enviar um comentário