terça-feira, 7 de março de 2017

IMPERFEIÇÃO



Albert Einstein, cuja religiosidade podia abranger o espírito de todas as religiões,  terá dito uma vez que  Deus era 'subtil',  mas  não 'malicioso'. E Descartes disse, três séculos antes, algo de semelhante, que só um Génio malicioso (malin) podia enganar-nos de tal maneira que aquilo que parece evidente à nossa razão fosse afinal um embuste, uma armadilha do próprio Criador, para nos salvar de nós mesmos, por inveja da nossa audácia prometeica, ou por qualquer outro insondável 'motivo'. Isso, todavia, chegava-lhe para afirmar, sem sombra de dúvida, a nossa própria existência.

Claro que a hipótese mais simples é a de um Deus que não sabotasse a sua própria criação. Mas a subtileza tampouco se adequa ao caso. Por que haveria Deus de ser subtil, a subtileza sendo uma qualidade ambígua que tanto pode significar uma vontade de pôr à prova, como de embaraçar, criar dificuldades, exibir uma penetração fora do comum ou a mais sofisticada arte da diplomacia, tudo, enfim, demasiado humano?

O mais certo é que o cientista se tenha  servido de uma metáfora para significar o que é de facto uma impossibilidade que é a de caracterizar o 'Ser supremo'. Mesmo o cristianismo que encontrou no mediador a sua 'quadratura do círculo' se confronta com o 'silêncio' de Deus, como o recente filme de Scorcese tão exemplarmente o explica.

No fundo, a metáfora obrigatória só fala de nós e da grande imperfeição que tanto a razão como o sentimento não podem deixar de assacar-nos.


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