"Salle à manger de la Princèsse Mathilde" (Charles Girard)
"Eu acabava, com efeito, de me aperceber que havia vinte e cinco minutos que estava, que me tinham talvez esquecido, naquele salão, do qual, apesar desta longa espera, só poderia dizer, no máximo, que era imenso, esverdeado, com alguns retratos. A necessidade de falar não impede somente de escutar, mas de ver, e neste caso a ausência de toda a descrição do meio exterior era já uma descrição do estado interno."
"Le Côté de Guermantes" (Marcel Proust)
Marcel está a ferver por encontrar um interlocutor a fim de poder exprimir as ideias que a conversação com a duquesa e os seus convidados vinha de despertar. Mas esse outro tão desejado não pode ser o barão de Charlus que assim o faz secar naquele vestíbulo e que o vai tratar com a maior das insolências.
São ideias, como ele diz, que não nasceram dentro de si, são ideias "sociais", contraídas numa reunião mundana, e que estão agora tão impacientes por sair, como ele próprio para encontrar-lhes um "hospedeiro".
Essa corrente externa, que já na carruagem o agitara, como a uma "pitonisa", impede-o, realmente de pensar. E é uma observação que nos ocorre fazer, esta de atribuir a essa impaciência viral o medo que algumas pessoas, com intensa vida social, têm de encontrar-se a sós com o vazio que há em si próprias.
Proust era um infiltrado no meio selecto que frequentava. E para que pudesse usar das suas prodigiosas capacidades de observação, teria de ter tido poucas vezes essa urgência de falar.
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