"De facto, a Mulher é um elemento ao mesmo tempo contíguo e exterior à humanidade, uma espécie de envolvência completa do homem, um meio, para dizer tudo. "Ela é como o céu para a terra, que está por baixo e por cima, a toda a volta. Nela nascemos. Dela vivemos. Estamos por ela envolvidos. Respiramo-la, ela é a atmosfera, o elemento do nosso coração." Sendo elemento e não indivíduo, a mulher é superior por natureza a toda a lei civil: ela é impunível. Não entendais por isso que seja forçosamente inocente. A Mulher não é infantil; é talvez culpada, mesmo responsável; mas a sua humanidade cessa no momento da repressão, como a de um deus disfarçado que torna a ser deus se for ameaçado de morrer."
"Michelet" (Roland Barthes)
Depois do quadro sombrio de Kafka, com a mulher seduzindo o réu e levando-o, de ilusão em ilusão, ao baldio em que, no final de "O Processo", tudo é consumado, com Michelet, é o calor que protege a vida, e a sua metamorfose, ao contrário da do conto checo, é ascensional.
Nessa parábola luminosa, a mulher, indivíduo dotado de personalidade própria e identidade civil, é um ser perdido no templo.
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