quinta-feira, 30 de março de 2017

O BARBEIRO PRODIGIOSO



"Woyzeck - Sim, meu capitão, a virtude! Eu ainda não sei o que é. Veja só, nós a pobre gente, não temos virtude, é a natureza que nos empurra, mas se eu fosse um senhor com um chapéu, um relógio, uma casaca, se tivesse aprendido a bem falar, então gostaria muito de ser virtuoso. Mas sou um pobre diabo."
"Woyzeck" (Georg Büchner)

Woyzec é um pobre diabo que acaba por assassinar a mulher movido pelo ciúme. Contudo, nesta fala, nesta confissão de humildade, percebemos toda a ironia e todo o orgulho do autor da peça. Büchner serve-se da simplicidade para confundir os orgulhosos. Mas o Woyzeck real não seria capaz de verbalizar aquela crítica indirecta.

O teatro não é a vida, verdade comezinha. Mas a realidade nunca nos levaria por si só a compreender a situação. Precisamos que a linguagem interceda e, com ela, o artifício e a complexidade das leituras.

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