"Não fiz neste mundo nada que valesse a pena e que antes não me tivesse parecido inútil, inútil até ao ridículo, inútil até à náusea. O demónio que habita no meu coração chama-se: Para quê?"
Georges Bernanos
Acreditemos que o autor de "Diário de um pároco de aldeia" nunca foi jovem e nunca foi verdadeiramente cristão. Um dos privilégios da idade é não ter que ser fiel ao seu próprio passado. Sabemos quanto isso conta para muitos. Mas a questão é que para se ser, realmente, fiel a esse passado se tem que deixar de viver a vida na sua actualidade. É como se decidíssemos escrever as memórias definitivas e trancar os desenvolvimentos possíveis da vida que temos. Surge então o demónio do 'para quê?', em todas as ocasiões em que nos interroguemos sobre tudo o que não seja a nossa obsessão.
Quem escreve, neste sentido, na realidade transcreve, para si, o que julga ser o seu passado. O modelo é o de "Buvard et Pécuchet" de Flaubert. Os dois burgueses reformados, depois de correrem por um tempo atrás de um 'enciclopedismo' sem objecto, devotam-se, como os monges da Idade Média, a copiar o 'conhecimento'.
A 'Era da Técnica', nas palavras de M.Gonçalo Tavares, ter-lhes-ia hoje tirado também essa resposta ao 'para quê?'.
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