"Alegoria do vício e da virtude" (Andrea Mantegna) |
"O mundo moderno não é mau: em alguns aspectos, o mundo moderno é até muito bom. Está cheio de virtudes selvagens e desperdiçadas. Quando um esquema religioso é abalado (como a Cristandade foi abalada pela Reforma), não são só os vícios que ficam à solta. Os vícios, na verdade ficam à solta, e vagueiam fazendo estragos. Mas as virtudes também se soltam; e as virtudes vagueiam mais bravamente, e fazem estragos mais terríveis."
"Orthodoxy" (G.K. Chesterton)
Um mundo exclusivamente virtuoso seria um mundo processional em volta de Deus, como se vê no 'Paraíso' de Dante. Só imaginar esse tédio sem fim confirma-me no amor do mundo, isto é, da vida. Porque a teoria dantesca sugere-nos a contemplação das almas por fim 'libertas' do fardo corporal que é, na realidade, a causa de sentirmos tédio e de estarmos vivos.
O que se passa no mundo é a prova provada que a virtude mais pura é também a mais perigosa. Robespierre, 'O incorruptível' ( alguns sonharão com alguém como ele que torne desnecessárias as operações Lava-Jato) e Saint-Just, o Anjo da Morte, foram, sem dúvida, virtuosos, mas marcaram a Revolução Francesa não-oficial de uma tal desumanidade que só a engrenagem assassina de Hitler e de Staline ultrapassariam. E os talibãs, os alqaedistas e o Daesh não são puros e virtuosos, sem os vícios ocidentais que juraram varrer da face da terra? Quando essas organizações se deixarem minar pela corrupção e o compromisso perderão o seu poder de atracção sobre tantos jovens, alguns dos quais são filhos das nossas elites.
Não há generosidade no vício, só egoísmo e fraqueza. Mas a virtude pode ser generosa, sobretudo nos jovens. Essa força faz toda a diferença entre os malefícios da exclusividade entre o vício e a virtude.
Apesar das aparências, a virtude é que é senhora do mundo. E o melhor do vício é a homenagem que lhe presta, desde sempre, porque por ele não poderia criar nada.
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