quarta-feira, 19 de agosto de 2015

CORAGEM

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Diz Albert Camus nos seus 'Carnets' que "este universo não tende para nada e não vem de nada porque já está feito e sempre existiu. Não há tragédia porque não há história. É inumano tanto quanto podia ser. É um mundo para a coragem." E, mais adiante, que sempre haverá "uma filosofia para a falta de coragem." 

Aqui, apetece dizer que não temos prova de que o universo não se parece connosco e que, portanto, se há uma escolha a fazer nesta incerteza absoluta é, como diria Spinoza, 'perseverar no nosso ser', como se isso fosse o melhor para o universo, ou como se, com a existência, tivéssemos recebido um mandato 'divino'.

Camus decidiu-se pela alternativa e apesar de tampouco poder apresentar provas, escolheu que o mundo é inumano e que só poderemos subsistir com toda a coragem de que dispunhamos. Devemos 'ir à luta' pela luta, ou por uma qualquer dignidade que só tem sentido para nós.

Pascal, na sua célebre aposta sobre a 'salvação da alma' diz que ganhamos sempre em acreditar em Deus, contra qualquer outra alternativa. É uma aposta que chega a ser chocante pelo seu 'pragmatismo', como diríamos hoje, porque, no fundo, é um cálculo do interesse próprio. Deus parece até uma cédula para reclamar a lotaria. Mas Pascal era mais matemático do que crente.

Para Camus, a nossa situação no mundo é absurda, e a única coisa que podemos fazer contra isso é criar um mundo nosso que faça sentido. Nesse caso, talvez a primeira das virtudes seja resistir à submersão no 'ambiente absurdo'.


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