"- O sr. Naphta, respondeu Settembrini, é, quanto à sua pessoa, tão pouco capitalista quanto eu.
- Mas, interpôs Hans Castorp, porque a resposta que senhor deu comporta um "mas", sr. Settembrini.
- Pois bem, essa gente nunca deixa morrer os seus à fome.
- Quem? "essa gente"?
- Os padres.
- Padres? Padres?
- Mas, engenheiro, eu quero dizer: os jesuítas."
"A Montanha mágica" (Thomas Mann)
Assim, o fascínio que as palavras de Naphta tinham exercido sobre Hans Castorp e o primo, nessa visita que o pedagogo Settembrini via com tão maus olhos, por causa duma presumida má influência, ganhou de repente um outro sentido e perdeu toda a sua virulência.
A argumentação "teológica" de Naphta aparentava de facto uma liberdade - um pragmatismo, diríamos hoje, que não permitia "situá-la".
Percebemos depois que Thomas Mann acabava de nos dar o mais conseguido retrato do espírito jesuíta, e da maneira mais sensível: quando não estamos ainda "imunizados" pelo preconceito.
Em política, são os estereótipos que garantem o funcionamento do jogo, e esconjura-se uma folga excessiva com nomes, por exemplo, como o de "troca-tintas".
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