terça-feira, 18 de agosto de 2015

UMA ESFINGE MODERNA

Martin Heidegger



"Ao que poderemos acrescentar a possibilidade (e eu penso que não se trata somente da possibilidade) de Heidegger ter sido, 'in propria persona' um pequeno carácter, um homem que envelhecia possuído pela astúcia, pela ambição, por certas tradições 'rurais' e profundamente incorporadas de dissimulação e exploração das oportunidades. O seu pedaço de terra talvez tivesse fornecido a colheita do inferno, mas era o seu pedaço de terra."


George Steiner

Um grande filósofo sai da sua nuvem universitária, atraído pela fanfarra nazi, paga as suas quotas ao partido e com a ajuda deste torna-se reitor, depois de ter abandonado às feras o seu mentor, Husserl. Logo depois, ter-se-á arrependido desse entusiasmo, suscitado pela aparente confusão entre o movimento hitleriano e alguns aspectos da sua filosofia da existência.

Não foi o primeiro a enganar-se. Platão, esse grande espírito, apostou no tirano de Siracusa e esteve perto de ser assassinado. E Beethoven não viu em Napoleão o novo libertador, tendo-lhe até dedicado a sua terceira sinfonia, para rasgar a dedicatória quando se anunciou o imperador?

Todos os casos são diferentes. O que muitos não desculpam em Heidegger é o seu carácter (que como o do escorpião da fábula wellesiana era 'mais forte do que ele'). A maneira de se retratar foi um obstinado silêncio, um orgulho intratável, ou, talvez a certeza, bastante misantrópica, de que nunca seria compreendido.

O velho filósofo na sua cabana da Floresta Negra tornou-se uma esfinge moderna.

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