segunda-feira, 17 de agosto de 2015

A RÃ E O ESCORPIÃO

Orson Welles em "Mr. Arkadin"


"Eu disse a todos, não invistam mais do que podem perder. Estamos na Bolsa. Há sempre coisas que podem acontecer. As firmas de corretagem podem falir. Eu posso dar em doido e fazer qualquer coisa de estúpido. Invistam em Obrigações do Tesouro. Toda a gente compreendeu a mensagem. Mas todos eram ambiciosos."
Bernard Madoff (Expresso de 26/3/2011)

Orson Welles conta, em "Mr. Arkadin", a famosa história do escorpião que pediu à rã para atravessar o rio. A rã respondeu-lhe que não caía nessa, porque bem sabia que o escorpião, durante a travessia, lhe havia de espetar o  ferrão. Ao que o outro retorquiu: mas que lógica há nisso, visto que nos afogaríamos ambos? A rã deixou-se convencer pela lógica, mas a meio do rio sentiu a temida picada. O escorpião reconheceu que tinha faltado à sua promessa e infringido a lógica, e, enquanto se afundavam, rematou em jeito de conclusão: "- É a minha natureza!"

A lógica pode, na verdade, explicar até um caso como este. Desde que entremos nos detalhes. Porque era lógico que o escorpião reagisse conforme a sua natureza e que a força disso prevalecesse sobre qualquer cálculo ou comprometimento. Se o instinto de sobrevivência não for tão forte como se julga, compreenderemos não só o escorpião, como os 'kamikases' da segunda guerra mundial ou os homens-bomba do Daesh, como também os especuladores que acompanharam Madoff no seu inglório destino.

Afinal de contas, estamos apenas a comparar forças, ou números, o que é da natureza da lógica.

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