Albert Camus |
"Revolta: o fim da revolta sem Deus, é a filantropia. O fim da filantropia são os processos."
"Cahiers" (Albert Camus)
A revolta contra Deus é a história do Anjo Caído. Mas essa revolta é uma demonstração da superioridade do princípio contrário. Serve a exaltação do bem, como o simples nada seria incapaz de servir. Para que 'tudo se cumpra', Judas é necessário. O 'beijo da traição' podia ser o sinal da obediência completa, para além do bem e do mal.
A outra revolta é contra o homem, por amor dos homens. A 'espada' que em Cristo defende o sagrado dos 'vendilhões do templo' e de outros mixordeiros, aqui separa o reino abstracto das ideias do reino dos interesses. César não beneficia de nenhuma cláusula especial. Pelo contrário. E, não é preciso dizê-lo, esses interesses incluem a chamada 'super-estrutura' que inclui a 'lavandaria' do poder inimigo (como no dinheiro sujo).
Quando esta revolta se apropria, por sua vez, do poder, tem de defender a sua consistência ideológica da contaminação do passado e das revivescências da antiga ordem. Não o pode fazer simbolicamente, com um platonismo de ocasião, inspirando-se numa dualidade acima da política, mas 'legalmente', com os instrumentos do novo poder.
É a fase dos processos de que fala Camus. O poder 'arbitrário' é de facto apenas lógico. O seu rosto já não tem nada de filantrópico. Por isso se esconde por detrás da 'majestade' da lei tornada farsa.
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