domingo, 25 de janeiro de 2015

AS NOSSAS ILUSÕES

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"Poupemo-nos as ilusões daqueles que, tendo lutado por Liberdade, Igualdade, Fraternidade, acabaram um belo dia por obter, como diz Marx, Infantaria, Cavalaria, Artilharia."
(Simone Weil)

 

Os revolucionários da Comuna de Paris talvez não soubessem 'medir as forças'. A sensação do fim de um mundo, a enorme esperança anunciada pelos novos profetas, nada disso se podia contar como 'força no terreno'. No cemitério do Montparnasse, o 'Muro dos Federados', é a homenagem possível, com o respectivo aviso dos poderes instituídos: ao sonho responderá sempre a tríade militar, ou o que, hoje, faz a vez dela.

Mas podemos, realmente, poupar-nos as ilusões? Outras, claro, e sempre as mesmas. Quando, na Grécia Antiga, se culpavam os deuses por um fatal desenlace, estes devolviam todas as culpas aos mortais. Muitas histórias mostram-nos que o Olimpo estava longe de ser desapaixonado. Os 'erros' dessa corte acima das nuvens justificavam perfeitamente os humanos. Era um mundo sem culpa, como se sabe. Se Ajax perde a razão e ceifa a torto e a direito entre o rebanho dos gregos, tomando-o pelo exército inimigo, é porque Atena toldou o seu juízo.

Os deuses e os heróis da mitologia simplificavam muito a nossa compreensão do mundo. No nosso tempo, porém, já não basta culpar-nos a nós mesmos. As grandes abstracções endossaram a culpa judaico-cristã. A filosofia alemã ofereceu-nos outro tipo de causalidade, que é a História. A História com as suas leis a que não poderíamos fugir. Outras vezes, diz-se que a História nos julgará.

Mas já não estamos aí tampouco. A própria ilusão às vezes é encarada como um direito. Como algo que se compra e que se vende.

 

 

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