Narciso (Caravaggio) |
"E Narciso, que não duvida que a sua forma esteja num lugar qualquer, levanta-se e parte à procura dos desejados contornos para envolver enfim a sua grande alma. Na margem do rio do tempo, Narciso detém-se. Rio fatal e ilusório onde os anos passam e se dissipam. (...)"
"Le Traité du Narcisse" (André Gide)
A Narciso inquieta o desejo das ninfas. Nenhuma lhe parece tão bela para merecer o desejo que ele próprio desperta. Procura esse segredo até encontrar o objecto ideal na água de uma fonte.
Em Caravaggio, vemo-lo formando um círculo com a sua imagem reflectida. Mas em que é que o seu rosto se distingue das outras formas que aparecem no espelho, pergunta Gide? Mas o pintor, fiel ao seu 'tenebrismo', faz esse rosto emergir da escuridão. Narciso vê-se a si próprio e mais nada. Pensou ter encontrado o desejo das ninfas e a lenda reza que morreu do encantamento.
Gide diz que o espelho era na verdade o rio do tempo, o tempo que devora a imagem. Que paixão perdeu o filho do deus-rio? Não foi propriamente o amor da sua própria beleza, mas o desejo do desejo.
1 comentários:
A proposito do narcisismo sugiro-lhe um livro que acabei de ler "A Agonia do Eros" de Byung-Chul Han.
Cumprimentos :)
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