quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O REBANHO

 

"indivíduos que não têm ideias nítidas e exactas de coisa nenhuma, nem de nenhuma pessoa, não devem ir à urna, para não se dizer que foi com carneiros que confirmámos a república".

(Afonso Costa, 12/6/1913)

O voluntarismo como método revolucionário está todo nestas palavras do líder republicano. Com toda a boa fé se subscreve a doutrina que Salazar havia de praticar uns anos depois, a qual justifica o rebanho e o pastor. Mas não nos esqueçamos que é esta 'doutrina' que, igualmente, está por detrás do conceito de vanguarda da classe operária assumido pelo partido leninista. Aqui, é o atraso do próprio capitalismo na Rússia do princípio do século XX que, em certa medida, fundamenta o atraso da consciência das massas, atraso que devIa ser suprido pelo dínamo vanguardista.

Afonso Costa não se confrontou com uma situação revolucionária tão clara, nem tinha o propósito de levar às últimas consequências (as definidas pela 'história da luta de classes em França') o seu jacobinismo.

Ao argumentar que o povo português não estava 'preparado para a democracia' e que, portanto ele, o homem providencial, continuava necessário, Salazar na prática retomava o preconceito do partido republicano de que o voto de cidadãos só de nome, sem 'ideias nítidas e exactas de coisa nenhuma' não tinha qualquer valor.

Em grande parte, por causa do alheamento popular, a nossa história nos últimos cem anos foi uma luta entre vanguardas e retaguardas. A história de uma elite desavinda que o grande 'rebanho' suportava como sempre suportou as inclemências do clima.

 

 

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