domingo, 11 de janeiro de 2015

A DISCIPLINA PARTIDÁRIA

 


"No espaço de poucas semanas, a Assembleia Nacional tinha claramente frustrado Salazar pelo número de propostas de lei e avisos prévios introduzidos pelos deputados. Salazar encontrou-se com estes a 19 de Fevereiro para os admoestar e tornou pública a sua crítica através de uma entrevista a 'O Século'. Parte do problema, admitiu, era a falta de disciplina partidária entre os noventa deputados que agiam como indivíduos destituídos de um propósito comum."

"Salazar" (Filipe Ribeiro de Meneses)


Qualquer dos grandes partidos, hoje, acharia legítima, se fizesse abstracção da personagem, esta preocupação de Salazar. Daí que aqueles que defendem, num partido 'disciplinado', a redução do número de deputados por, realmente, não terem voz activa, tiram, razoavelmente, as consequências de tal modelo de organização parlamentar.

O chamado centralismo democrático do partido leninista, em comparação, não nos parece mais 'anti-democrático' (se não se tratar de uma ditadura de partido único). O que diferencia estes modelos é o grau de organização. Um oferece a imagem de uma participação, de alto a baixo, dos militantes que é, no fundo, a simples consagração das decisões da 'cúpula'. O partido 'disciplinado' da nossa democracia tem outro cerimonial, menos 'arquitectónico', mas não menos eficaz. A possibilidade da democracia está, evidentemente, no debate livre entre os partidos, uns mais 'organizados' do que outros, embora.

O que parece resultar desta apreciação é que a actual organização dos partidos não é especialmente democrática e o tipo de disciplina parlamentar que os caracteriza poderia adaptar-se à falta de liberdade política.

Resta saber se a própria ideia de partido (no sentido moderno), tendo em conta a sua origem e a sua história, consente que este tipo de organização contribua para o aprofundamento da democracia...


 

 

 

 

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