Laurence Fishburne and Kenneth Branagh as Othello and Iago respectively |
"Faltou-lhe o calo de seminarista, que, afinal de contas, tornou dez por cento dos portugueses aptos a manifestar as incompatibilidades com o sistema, sem cair em contradição com ele."
"Ordens Menores" (Agustina Bessa-Luís)
Também é costume falar de espírito jesuítico a este propósito. Na história, abundam os exemplos de ex-seminaristas, como Estaline, dotados da capacidade de empregar o 'espírito contra ele próprio', que é talvez a melhor definição do 'satânico', na tradição cristã.
Ora, o 'calo' de que fala Agustina ultrapassa em muito a instrução eclesiástica. É uma analogia política que procura caracterizar um comportamento típico e uma certa maneira de pensar. A reserva mental, por exemplo, não é um exclusivo do jesuítismo. Iago, a personagem do "Othello", é um ser dúplice e acomodatício para não levantar suspeitas que prejudiquem a sua traição.
A versão do 'calo de seminarista' é mais benévola e idiossincrática. Satisfaz o vício da maledicência e, ao mesmo tempo, apropria-se dum 'bónus' de independência. Isto é mais 'arte de viver' do que outra coisa qualquer.
Por isso surpreende a fúria da nossa guerra civil.
0 comentários:
Enviar um comentário