terça-feira, 16 de dezembro de 2014

SEMINARISMO

Laurence Fishburne and Kenneth Branagh as Othello and Iago respectively


"Faltou-lhe o calo de seminarista, que, afinal de contas, tornou dez por cento dos portugueses aptos a manifestar as incompatibilidades com o sistema, sem cair em contradição com ele."

"Ordens Menores" (Agustina Bessa-Luís)

Também é costume falar de espírito jesuítico a este propósito. Na história, abundam os exemplos de ex-seminaristas, como Estaline, dotados da capacidade de empregar o 'espírito contra ele próprio', que é talvez a melhor definição do 'satânico', na tradição cristã.

Ora, o 'calo' de que fala Agustina ultrapassa em muito a instrução eclesiástica. É uma analogia política que procura caracterizar um comportamento típico e uma certa maneira de pensar. A reserva mental, por exemplo, não é um exclusivo do jesuítismo. Iago, a personagem do "Othello", é um ser dúplice e acomodatício para não levantar suspeitas que prejudiquem a sua traição.

A versão do 'calo de seminarista' é mais benévola e idiossincrática. Satisfaz o vício da maledicência e, ao mesmo tempo, apropria-se dum 'bónus' de independência. Isto é mais 'arte de viver' do que outra coisa qualquer.

Por isso surpreende a fúria da nossa guerra civil.

 

 

 

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