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"É preciso testemunhar por aquilo que dura contra o que parece durar."
(Georges Bernanos)
Mas que dever é esse de testemunhar? Num processo judicial, testemunho porque quero ajudar a Justiça, ou mais comummente, porque a isso sou obrigado.
Talvez não se possa entender esse desejo de realização da justiça, sem a tradição religiosa e a ideia de salvação. E não apenas a salvação individual, mas a de todos. O individualismo, porém, tornou esta cláusula dispensável. Certos 'místicos' foram tão longe no caminho do monólogo do 'dois em um' e do esquecimento do mundo que seria admissível que os outros nada pudessem beneficiar da sua experiência fora do mundo. Não foi assim porque o testemunho pessoal que deixaram foi interpretado pela Igreja no sentido edificante. Podemos imaginar quanto misticismo escapou a essa hermenêutica, por estar 'desenquadrado'.
A secularização relativizou enormemente aquele 'é preciso'. Invertendo a fórmula pessoana, podíamos dizer: viver é preciso, navegar não é preciso'.
Por que haveríamos de testemunhar do que é mais permanente, se vivemos sem transcendência e apenas valorizamos a vida por mais efémera que ela seja?
Mais importante do que 'testemunhar' é esquecer a impermanência. Por isso a morte é o grande 'desmancha-prazeres'. E as nossas esperanças viram-se agora para coisas como a bionanotecnologia que nos promete viver mais do que Matusalém.
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