Roberto Calasso |
"A imitação é o gesto mais perigoso para a ordem do mundo, porque tende a apagar os limites."
"Le nozze di Cadmo e Armonia" (Roberto Calasso)
Não é por isso que a ditadura é a pior desordem? O medo reduz os gestos ao mínimo, e todos se cingem às tácticas de sobrevivência. A imitação dos que sobrevivem é a lei.
Numa sociedade livre todos se querem distinguir, como diz Nietzsche, mas aos poderosos não convém que se perca essa fonte de energia. Por isso, procuram por todos os meios canalizar esse caudal em proveito próprio. Não seríamos justos, porém, se não reconhecêssemos que, ao longo da história, alguns conseguiram, por um tempo, abster-se de beneficiar do poder.
Os limites de que o autor fala são uma noção central na civilização grega. As leis atenienses procuraram tornar esses limites sempre presentes, mas nenhum filósofo foi capaz de precisá-los. É algo que a cultura e a própria língua tornam implícitos à ordem do mundo.
É curioso que um instinto como o da imitação, que é a forma, enquanto crianças, de aprendermos com os pais e os mais velhos, se torne na cidade um mal político. Porque ele significa que abdicamos de pensar por um ilusório amor à segurança, ou por simples preguiça.
Não é assim quando se imitam 'os melhores', mas pela própria natureza da democracia o outro não pode ser melhor do que nós, porque somos levados a confundir o bem (claro que já nem estamos certos do que isso possa ser) com os direitos cívicos. Segundo essa ideia, as qualidades não tornam as pessoas 'melhores', mas podem torná-las 'desiguais'.
A massificação mediática parece inevitável e leva a maior parte da 'água a este moinho' da imitação negativa.
Quanto à ditadura, é o que se sabe...
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