domingo, 7 de dezembro de 2014

FÁBULAS SOBRE A FORÇA


David e Golias (1607-Caravaggio)



A passagem bíblica de David e Golias parece ainda traduzir, para muitos, o que se passa no Médio Oriente.

Não importa que a funda tenha dado lugar ao míssil de médio alcance. Porque não possuem um Estado e não têm tanques nem aviões, os que combatem Israel, no terreno e sangue contra sangue, atraem toda a simpatia dos que sempre escolhem o lado dos mais fracos.

Também os que apoiam ( ou manobram ) os mais fracos são vistos com bons olhos, porque o Golias tem do seu lado a maior potência do planeta.

Não estão nunca em causa os meios de que uns e outros se servem. Só aparentemente são ambos terroristas. Porque dum lado temos uma causa justa (o direito dos mais fracos) e do outro temos a força que não precisa de argumentos.

Dum lado há mártires, e até as crianças mortas são mobilizadas na frente mediática. Do outro há o castigo de Deus pela injustiça do forte.

O que me parece cada vez mais evidente é que este David, longe de estar desarmado ( a funda também é uma arma), tem as armas mais eficazes (para quê, de facto, comparar arsenais e a bomba atómica que uns têm e os outros não, se o que decide pode ser uma funda de política regional e meios bélicos mais adequados a uma guerra que começa por anular a distinção entre o civil e o militar e entre o político e o religioso?).

Por outro lado, o Golias tem, cada vez mais, de contar apenas consigo próprio e, como na história, parece ter músculo a mais e agilidade a menos.
Mas a situação do espectador empático é insuportável.

Porque se persiste na culpa de Páris, o raptor de Helena, os Gregos têm a justiça pelo seu lado e talvez tenham o direito de destruir Tróia. Mas então por que é que os Troianos se defendem e atacam por sua vez, acrescentando mais ainda à sua culpa e espalhando dor e tragédia entre os Aqueus?

Quanto mais racional me parece atribuir as culpas à intriga dos deuses!

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