Uma das melhores séries de sempre é, sem dúvida, "True Detective", de Cary Fukunaga. A primeira parte acaba da melhor maneira a história destes dois homens que começa pela desconfiança e por uma visceral estranheza até alcançarem, no fim da sua "descida aos infernos" do pós-Katrina e da devastação social causada pelo ciclone político (a Louisiana, aqui é o mundo inverso da paisagem poética de um Flaherty), uma fraternidade quase exclusiva. A amizade viril em Hawks, ou Ford nunca partiu de tais extremos. Rust, (um fabuloso Matthew McConoughay), obcecado e distribuindo a conta-gotas uma filosofia desesperada que se confronta com a total incompreensão de Marty (Woody Harrelson, também ele supremo). Como se verá no decorrer da série, o desempenho de McConoughay, a intensidade da sua 'presença' (é isto ainda representação?), transmitem à personagem, sob a aparência do cinismo, um carácter profundamente místico, confirmado definitivamente na revelação a Marty, depois de sair do coma.
As peripécias da perseguição nos 'bayous' do obrigatório 'serial killer (referência de uma maldade 'criativa', com 'assinatura' que põe em causa a visão clássica de um mal 'sofrido' e involuntário, como em Sócrates) são decerto empolgantes mas são, sobretudo, a experiência seminal que transformará os dois homens.
Não creio que a confissão final de Rust seja mais um caso de 'redenção pelo amor' (da filha 'encontrada' do 'outro lado'. É, talvez, a explicação da paixão incansável do detective em tão flagrante contradição com o seu discurso cínico.
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