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"Ser profundo por insinceridade."
"Carnets" (Albert Camus)
Só somos sinceros se aquilo que pensamos não trair o que o outro 'tem direito' a esperar de nós. Traição, tradução. Se é preciso interpretar, é porque a sinceridade começa a ser problemática.
Mas esse estado feliz da 'comunicação', da partilha de um mundo comum, exige 'pôr entre parêntesis' o que somos para além dessa comunicação e dessa partilha.
O método que o nosso cérebro utiliza para resolver os problemas mais difíceis e os mais complexos passa por uma simplificação artificial que decide o que é 'essencial' e o que pode e muitas vezes tem de ser desprezado. Vivemos naquilo a que Musil chamava de distância média, ou no que o filósofo grego definia como a medida de todas as coisas.
Não somos propriamente insinceros sempre que abandonamos o 'mundo real' da inter-subjectividade. Mas deixamos de responder por esse nós que sabemos que 'não tem pé'.
Também, na verdade, não somos 'insinceros'. Simplesmente, não estamos onde os outros nos procuram.
Claro que Camus, além disso, pode querer significar outra coisa: que há uma ética no romper da 'comunicação'.
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