O Príncipe André Bolkonski ("Guerra e Paz")
Diante de Speranski, que é um indivíduo doutro meio, o príncipe André sente dificuldade em exprimir-se. Porque está demasiado absorvido no estudo da personalidade do outro. Há homens susceptíveis a tal ponto e a quem não queremos ferir de modo nenhum, que só é possível a conversação cortês com eles e a ausência de pensamento.
O tímido, ao contrário da personagem de Tolstoi, não está verdadeiramente atento ao outro – claro que Bolkonski estuda aquilo que é diferente de si próprio e que não sabe ainda interpretar, o que é, como toda a actividade “interessada” do espírito, uma necessidade pessoal -; ele defende o corpo nu do olhar estranho e quer sobretudo evitar um juízo que o ponha em causa na sua deformidade voluntária. Este é um exemplo típico dos erros da imaginação.
A timidez procura a situação mais desfavorável e que precisamente teme para não deixar de ser condenada. Mas o mecanismo salta aos olhos e pode ser desarticulado, ainda que indirectamente. A religião e o partido são como que o pano que cinge os rins do tímido, por isso é que alguns homens fracos se fortalecem pela causa externa e aparecem como os mais fanaticamente “impessoais”. A boa solução é interna e tem a ver com a filosofia e o verdadeiro lugar do sexo e das paixões.
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