quinta-feira, 28 de agosto de 2014

DON JUAN E O SEXTO SENTIDO

Francisco de Goya. Don Juan y el Don Juan e o Comendador Goya)

 

"O senso comum é o sexto sentido que controla os outro cinco e nos permite pressupor um mundo partilhável por todos.
(Hanna Arendt)

Descartes disse algo de parecido, que era a coisa mais bem partilhada deste mundo. Se bem que nos pareça, algumas vezes, que o mundo enlouqueceu. Mas se há tantos loucos, ou que parecem loucos, (exagerando o 'grão de loucura', aconselhado por Pessoa), talvez isso se deva ao facto daquele sentimento ser, apesar de tudo, predominante, e a humanidade como um todo se poder permitir a margem mais extrema.

A verdade é que nenhum de nós, individualmente, tem forças físicas ou morais para 'sustentar' um mundo partilhável. Não teríamos em nós nada que nos tirasse da irresolução, o pior dos males segundo o filósofo do "Cogito". Esse 'capital' de fé partilhável é insubstituível, pois é a partir dele que podemos começar a sociedade e o mundo político.

Nada como o cinismo daqueles que julgaram poder pensar o 'senso comum' e identificá-lo com a razão, por exemplo, para ilustrar o mal de se perder esse senso comum. Porque o cínico se encontra ensarilhado em malhas desfeitas que não consegue voltar a tecer.

Não é um pessimista (pode-se partilhar, por exemplo, 'o fim dos tempos'), mas sofre da frivolidade de D. Juan. Nada existe com o fundamento do 'sexto sentido'.

 

 

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