"Porque o sexo está a morrer. Em mais um século, ficaremos deitados com a língua de um na boca do outro, em silêncio e sem paixão, como o marisco."
"The Alexandria Quartet"
(Lawrence Durrell)
Palavras do poeta Pursewarden, personagem do romance, que parecem contrastar com a existência de uma indústria florescente, sem problemas de mercado. Mas, claro, não estamos a falar de 'marisco'.
Sade foi o grande percursor desta exaustão do sexo materializado, tornado ubíquo e sem sombras, exposto na luz desarmante, como, afinal, mais um segredo da 'carochinha'. A sua pulsão só pareceu misteriosa um tempo, o tempo da repressão e das 'trevas'.
Posto a nu, no que é a menos subtil das roupagens, podemos tratá-lo na sua funcionalidade reprodutiva ou simplesmente comunicacional. Teria razão Freud com o seu famoso princípio do prazer? Que escrever direito é este com estas 'linhas tortas'?
Entretanto, podemos observar certas tendências 'pursewardenianas', como a facilidade com que nas novas gerações se troca o real, ou tido como tal, pelo virtual. Woody Allen levantou uma ponta do véu. No seu filme, os 'amantes' entram numa espécie de escafandro electrónico para atingirem, cada um na sua cápsula, o orgasmo rápido e, sobretudo, simultâneo (o último reduto da ética). No minuto seguinte, despachado o prazer, pode-se tratar de um negócio ou de outra coisa qualquer, com verdadeira eficiência. O "tempo é dinheiro" reina descomplexadamente.
Mas o tópico do marisco parece ridiculamente temporário, sem futuro. Pursewarden talvez tenha pecado por falta de imaginação. O seu modelo é demasiado influenciado pelo 'budismo'.
0 comentários:
Enviar um comentário