quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O TIRANO



Caracalla

"O seu cabelo e a barba são muito mais curtos do que os do seu pai - iniciando uma nova moda no penteado masculino durante o terceiro século AD. Mais notável, contudo, é a emocionante caracterização da personalidade de Caracalla, um ulterior desenvolvimento da inovadora introspecção de Marcus Aurelius. De cenho carregado, abruptamente volta a cabeça sobre o seu ombro esquerdo. A intenção do escultor foi, provavelmente, com a expressão facial e o movimento dramático, sugerir energia e força, mas para quem vê parece que o imperador suspeita de algum perigo atrás de si. Caracalla tinha razões para estar receoso. O punhal de um assassino matou-o no sexto ano do seu reinado."

(Fred S. Kleiner)

A intenção do escultor pode ser o que parece, sobretudo, se o busto foi feito depois da morte de Caracalla. A obra corresponderia assim a um juízo retrospectivo. Mas, vivo, o tirano admitiria que tinha medo?

Já Platão não tinha qualquer dúvida de que o déspota só pode viver acossado e desconfiado de tudo e de todos. Mas o poder é ainda atractivo a esse preço. Além disso, parece que a fama (como os romanos a entendiam) não tinha comparação com mais nada.

O busto do imperador, na sua força obtusa, faz lembrar um animal em posição de marrada. Filho de Septímio Severo, não tinha, apesar de tudo, a perversidade desnaturada de Cómodo, o príncipe que desceu à arena para competir com os escravos do gládio. Mais anti-político só o cavalo de Calígula, o seu antepassado da família julia.

Agustina escreveu uma espécie de diário de viagem intitulado "Embaixada a Calígula". O 'embaixador' era um judeu que pretendia fazer ouvir junto do imperador a voz do seu povo submetido. O problema era, como no caso do patrono das termas mais célebres de Roma, em que 'lingua' falar-lhe. Apelar a que arremedo de razão?




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