quarta-feira, 20 de agosto de 2014

SIMONE E LEON

Leon Trotsky

 

" SW - Que poderá dar esta jovem geração submetida a uma tal 'lavagem ao cérebro'?

Trotsky - (resposta evasiva e desencorajada) À medida em que a produção for progredindo... Proletariado russo ainda ao serviço do aparelho de produção: inevitável até que a Rússia tiver ultrapassado os países capitalistas. Rev[olução] de Out[ubro] análoga a uma revolução burguesa. Nào tenho nada a censurar a Estaline (salvo as faltas no quadro da sua própria política);"

(Notas de Simone Weil da sua conversa com L.D. Trotsky, recebido no exílio, em Dezembro de 1933, na casa dos seus pais)


Em ambos os interlocutores, o que parece hoje uma inconsequência e uma grande ingenuidade. A 'lavagem ao cérebro' da juventude, levada a cabo pelos bolcheviques, não era uma questão de escolha. Uma vez tomado o poder, o partido tinha de se preparar, não para o socialismo, mas para uma guerra sem quartel com tudo o que representava o antigo regime. A energia envolvida nisso não deixava lugar para os 'pruridos de consciência' burgueses. Mas, evidentemente, cada passo necessário para a estabilização do novo regime criava as condições para uma sociedade cada vez mais parecida com o anterior e execrado 'estado de coisas'. Só a nova linguagem permitia conviver com essa situação, desde que se fechasse ao mundo, como aconteceu nas esferas do poder, entregue a uma espécie de esquizofrenia. A pergunta que Simone coloca ao velho revolucionário, surpreendido com a sua insolente descrença (vinda da esquerda), é a pergunta que parte do princípio de que todas as revoluções estão à partida condenadas, mais pelo seu método do que pelas suas ideias. A desordem repõe a velha ordem ou qualquer outra espécie de ordem, mesmo que seja inferior à 'velha ordem'. Trata-se, enfim, de uma questão pró-forma.

Trotsky, pelo seu lado, parece acreditar que a 'Grande Revolução de Outubro' representa apenas um atalho para o desenvolvimento capitalista, inacabado na Rússia. Foi uma revolução burguesa, uma etapa que, segundo a sua teoria da história, não podia ser iludida. O capitalismo, e o capitalismo no seu 'estádio supremo' era pois o futuro que as novas gerações de russos tinham o direito a esperar.

Na falta de um antecedente histórico que o pudesse esclarecer, não podia prever que a burocracia do Estado iria de tão bom-grado calçar as botas dos funcionários de um novo czar, tão iluminado como Ivan, o Terrível, o qual, muito provavelmente, também cometeu erros "no quadro da sua própria política"...

 

 

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