segunda-feira, 14 de julho de 2014

VIGILÂNCIA

Píndaro

 

"Se o fragmento 133 de Píndaro ilustra bem o orfismo, então a alma daquele que dorme, vela; e a alma daquele que vela, dorme."

(Paul Ricoeur)

A ideia de que a salvação e a vida eterna dependem da vida que levamos na terra parece impor aquela vigilância. Mesmo durante o sono, a sentinela está atenta aos perigos.

Mas como poderíamos ser 'condenados' pelo que fazemos quando dormimos? Sem consciência do que fazemos, teríamos ainda que responder diante do 'tribunal celeste'? De que perigos nos guarda a sentinela da alma?

A 'vigília' é como uma luz que não pode apagar-se, se queremos ser dignos da 'vida eterna'. É o 'moto' de toda a fé redentista. "Franceses, um esforço mais, se quereis ser republicanos!", ironizava o autor de "La Philosophie dans le Boudoir".

Há aqui uma espécie de equivalência em lúmens entre a consciência e a eternidade. Não se pode supor que a persistente vigilância órfica fosse recompensada pelo sono eterno, por mais bem-aventurado que ele fosse.

A vida eterna para os Antigos Gregos seria, talvez, um colóquio de almas não interrompido pela fatalidade. Dante, no 'Paraíso', revelar-nos-á, em vez disso, uma rotina processional em círculo à volta do esplendor de Cristo. O aborrecimento é demasiado humano...

 

 

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