terça-feira, 8 de julho de 2014

AS PERGUNTAS DE JOB

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"Satã apostou que Job, confrontado com a infelicidade, não temeria Deus 'desinteressadamente'. Eis o que está em jogo: renunciar de tal modo à lei da retribuição que não só se renuncia a invejar a prosperidade dos malvados, como também se suporta a desgraça do mesmo modo como se aceita a boa fortuna, isto é, como um dom de Deus. É esta sabedoria trágica da "repetição" que triunfa sobre a visão ética do mundo."

(Paul Ricoeur)

Satã é aqui o 'espírito do mundo'. A sua inteligência não lhe permite conceber a gratuitidade, o acto que cria a sua própria lei, não-económica.

É quase impossível, de facto, não julgar 'satanicamente', procurando mesmo na santidade o interesse próprio. Desde que começámos a analisar a ecologia do prazer e do instinto, nada nos parece livre de uma interpretação 'pessimista' e iconoclasta. Como já Sócrates dizia do cínico Antístenes (que a vaidade transparecia através dos buracos do seu manto), a ambivalência e a contradição parecem inerentes a toda a ambição 'virtuosa'.

Que o caso não ficou resolvido e que há sempre um fundo de esperança inesgotável, mostra-o facto de, de longe a longe, aparecer alguém que confunde a análise moderna e desarma a crítica e o fatalismo.

Assim nos pareceu por um momento o papa Francisco, antes de nos mostrarmos indignos da esperança.

Mas a 'equanimidade' não é com Job. Ele lamenta-se e faz perguntas. Também ele parece indigno do ideal...

 

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