domingo, 13 de julho de 2014

O TRICOT

 

"Os intelectuais do progresso. São as 'tricoteuses' da dialéctica. A cada cabeça que cai elas refazem as malhas do arrazoado feito em farrapos pelos factos."
(Albert Camus)

 

Ficaram conhecidas como 'Tricoteuses' as mulheres jacobinas que, durante a Revolução Francesa, assistiam, fazendo meia, às sessões das assembleias populares.

Pormenor espantoso! A política como espectáculo deve ter começado aí. Imaginamos como acompanhavam os acesos debates e como tomavam partido, nos seus vernáculos apartes, com um olho no 'tricot'.

A política era algo que passara a pertencer-lhes por direito de cidadania. Coisa nunca vista! O povo, com os seus símbolos distintivos (como o boi em S. Lucas, ou o leão em S. Marcos), neste caso, o novelo e as agulhas, ocupação virtuosa, como que esconjurando a ociosidade, as mulheres do povo estavam ali como a moldura da cena piedosa.

Mas 'rolavam cabeças', umas atrás das outras, entre esses 'troféus' revolucionários estavam os Kamenev e os Zinoviev desse tempo, o crânio de Trotsky fendido pelo machado de Mercader, os heróis da Revolução, apenas uns anos atrás. Os 'processos de Moscovo' não beneficiaram já da presença das 'tricoteuses'. Agora eram homens do partido, representantes da organização.

Camus chama-lhes ainda aquele nome, em memória da primeira revolução. Mas tinha-se perdido o 'vernáculo' e a influência feminina. Os intelectuais, agora, 'remendavam' as malhas e retocavam as fotografias.

 

 

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