Eça e a cabaia |
"Que um valor não possa ser concretizado sem que um outro igualmente positivo deva ser destruído, é isto também o trágico."
(Paul Ricoeur)
Que do antigo Palácio de Cristal, no Porto, só tenha ficado o nome, associado ao moderno, mas incaracterístico, pavilhão é outra dessas fatalidades. Em troca da velocidade e da comunicação, perdemos os rios bucólicos e as praias virgens e raramente conseguimos ver uma noite estrelada sem ofuscamento.
Infelizmente, não podemos, como o Jacinto de 'A Cidade e as Serras', trocar o cosmopolita apartamento dos Campos Elíseos pelas terras de Baião no seu relativo paraíso.
Eça, só pouco mais de um mês, gozou esse paraíso. Hoje, na casa rústica, pode-se ver a sua cabaia e a escrivaninha pernalta. Como a coda musical de uma vida mais sonhada do que vivida, o tempo de Tormes é concentrado e rápido. O escritor nem chegou a ter tempo das saudades de Paris.
Se não crescêssemos, seríamos sempre crianças, o que era, talvez, o verdadeiro paraíso (pelo menos está-lhes prometido a elas o Reino dos Céus). Mas não conheceríamos, enfim, a maturidade e (por que não?) a velhice...
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