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"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)
A razão diurna empobrecida, que expressão admirável! Contudo, a noite traz consigo o medo primordiai, os fantasmas da imaginação. Mas eles são os monstros que nas lendas antigas guardavam a entrada do Céu e do Inferno. Vencidos, toda a nossa percepção muda radicalmente.
As pessoas, em geral, fogem de situações como esta. Agarram-se à sua rotina, ao seu mundo pré-fabricado. Tapam as frinchas das janelas e das portas para não entrar a angústia. A angústia de estarem sós consigo mesmas, a angústia de estar sobre a terra escurecida sem um néon por perto. Mas, às vezes, o pânico instala-se na própria lâmpada, como num filme de David Lynch.
O intenso pressentimento da terra. É contra ele que trabalha afanosamente, a razão diurna. A imagem mais reveladora é a que nos transmite o facto de, em muitas cidades, a palavra noite ter sido apropriada para significar a espécie de vida 'nocturna' a que, hoje, nenhum jovem que se preze se quer subtrair.
A Grande Presença está sempre vigilante e como que triste por não lhe dedicarmos um pensamento. A pior censura não é a que nos impede de falar, mas a que nos 'põe a falar'. Dizia Pasolini, por outras palavras.
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