"(...) Isso mesmo era expressamente afirmado pelo rei (Afonso II) quando dizia que "a nós pertence fazer mercê aos mesquinhos e os defendermos dos poderosos"."
("História de Portugal", de Rui Ramos & al.)
O monarca era, no século XIII, um poder travado e discutido por outros poderes, como o dos senhores feudais e o da Igreja.
Os 'mesquinhos' de então deram lugar ao 'proletariado' do marxismo, e o Estado constitucional e liberal viu-se obrigado à mesma função 'paternalista' contra o poder económico e político, através, sobretudo, da legislação social.
O rei tinha um interesse evidente em apoiar-se no povo e na burguesia para alcançar uma posição indisputada, até pretender confundir-se com o próprio Estado, como aconteceu no absolutismo. A partir dessa altura, a monarquia já não precisava de ninguém e pôde entregar-se ao seu irremediável declínio.
Um paralelo se apresenta com a sorte da monarquia e a do Estado moderno capitalista. Os novos poderes precisam, evidentemente, do Estado, que se tornou pouco a pouco coisa sua, sem prejuízo de proteger os 'mesquinhos', por motivos de segurança. Já Alain observou que o interesse do 'senhor' é tratar bem os seus escravos, olhar pela sua saúde, não menos do que é do interesse do ganadeiro alimentar e acomodar bem os seus touros de lide. Por que seria esse meio de riqueza desbaratado e desvalorizado?
Esta fábula podia ser a da 'luta de classes', mas sem uma lei histórica linear por detrás, com toda a esperança justificada.
Talvez que o discurso que se aproxima mais da realidade seja o do protagonista da magnífica série americana "True Detective", Rust Cohle, e a sua teoria dos ciclos. O mundo nunca será um lugar ideal.
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