"(...) mas desse modo, precisamente, a inteligência terá perdido tudo da sua dignidade. Será sem dúvida necessário ser inteligente, mas, ao mesmo tempo, isso será coisa tão comum que um espírito mais nobre sentirá tal necessidade como uma vulgaridade. Ser nobre significará talvez, então, 'ter ideias loucas na cabeça.'"
(Friedrich Nietzsche, citado por Camus)
É isto o grau de loucura que preconizava Pessoa? Nada obsta a que o 'cadáver adiado que procria' seja inteligente.
A temática do herói está bem presente nesta vontade de distinção. Mas o super-homem poderia contentar-se em pensar e agir contra a razão comum?
Na verdade, a aristocracia histórica impôs-se pela sorte das armas e pela manutenção do poder, eficamente servidas, assinale-se, pela razão comum. E é o que a tecnocracia continua a fazer, do modo mais impessoal possível. A razão não pode ficar de fora deste debate, mas ela fornece armas a todos os campos. É exímia, como já o disse Descartes no 'Tratado das Paixões' ( obra que Alain já considerava imerecidamente desconhecida), em emprestar um ar razoável a todas as nossas 'reivindicaçōes' infundamentadas - pelos vistos, foi assim que muitos leram o livro de Louçã & al. sobre a Dívida.
Finalmente, a nobreza de carácter de que nos fala o filósofo do Zaratustra, resplandece como um astro maligno em qualquer democracia. Pode ser 'namorado', como na meritocracia, e na elite imanente a qualquer sistema. Claro que Nietzsche nada nos diz sobre os privilégios dos poucos (que é o que fica do heroísmo de um tempo).
A verdade é que tudo deve repetir-se desde o início. Assim, a nobreza separar-se-ia do poder instituído e dos seus castelos e bastilhas (há dois dias, a propósito, passou o 'Quatorze Juillet')
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