segunda-feira, 22 de julho de 2013

REPRESENTATIVIDADE

http://www.timeshighereducation.co.uk/421005.article

"(O parlamento eleito) não representa o povo e a opinião deste, mas tão somente a influência que vários partidos (e a propaganda partidária) tiveram no eleitorado no dia das eleições. E isso torna mais difícil que o acto eleitoral seja o que podia e deveria ser: um dia em que o povo julga a actividade do governo."

Karl Popper


O filósofo da 'sociedade aberta', como vemos, nāo tem ilusões sobre a representatividade dos governos em democracia.

Mas o fundo da questão é outro. Mesmo que não houvesse qualquer desvio da 'vontade popular' pela propaganda dos partidos, esse estado da opinião poderia perder actualidade logo no dia seguinte às eleições.

Para além do 'bicho de sete cabeças' que é saber em que consiste a vontade popular (a dificuldade permite todos os expedientes possíveis, mesmo o de não consultar o 'povo soberano' em decisões cruciais - a Comunidade Europeia tem o catálogo mais actualizado, procedendo, na prática, como se o 'soberano' fosse, de facto, incompetente para decidir dos seus próprios interesses), existe o problema de não termos qualquer antecedente de uma democracia sem partidos. Se eles capturam necessariamente a 'vontade popular' e, por norma, põem os interesses da organização acima do interesse nacional, temos de procurar a legitimidade das eleições não na representatividade, mas nas convenções políticas. É democrático o regime que permite as liberdades, tão menosprezadas por Marx, e um governo que possa governar.

Aceita-se, ao mesmo tempo, que a representatividade, em vez de literal e actual, seja 'simbolizada' no acto único das eleições periódicas. Como diz Popper, a vantagem da democracia é poder mudar de governo 'sem derramamento de sangue'.

Antes da democracia digital, em que um 'like' poderá manter actualizada a 'vontade popular', é, talvez, o melhor que se pode fazer. Embora se tenha de ter em conta o outro lado da questão: é que nenhum governo político poderia funcionar nesse tipo de democracia 'facebook'.

 

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