segunda-feira, 8 de julho de 2013

ESPECTRO

Edward Said

 

"Todo este exercício avançava em parte devido a uma mistura anacronicamente israelita de terra com segurança; em parte por uma escatologia irredentista pós-67 (em que o Velho Testamento é invocado como uma espécie de contrato imobiliário com um Deus partidário); e em parte pelo antigo entusiasmo sionista pelo alargamento do território como fim em si mesmo."
(Tony Judt, citando Edward Said)

A motivação já pode ter sido a melhor arma do combatente. Os israelitas têm um 'contrato imobiliário' com Deus e a sua retumbante vitória na Guerra dos Seis Dias, quando eram largamente ultrapassados em homens e meios materiais pelos adversários ("Os israelitas teriam no máximo um quarto dos aviões, um quinto dos tanques, e apenas 275000 homens.") foi tão mau para Israel como "uma derrota histórica" (Said). Convenceu-os de que era aquela a vontade de Deus e de que eram praticamente invencíveis. Mas a consequência dessa supremacia cega às 'coordenadas terrestres' foi o surto de fanatismo político-religioso que nos levou ao mundo 'pós-torres gémeas' e aos delírios securitários do Ocidente, pois a soberba do 'povo eleito' tinha de concitar, uma unidade muito mais forte e natural do que a que o famoso Lawrence da Arábia conseguiu electrizar num breve momento histórico. No filme de Lean, a história começa e acaba pelo suicídio de Lawrence, naquela desvairada corrida de mota, a mais simbólica das 'fugas para a frente' do cinema.

Hoje, como se sabe, não é a motivação que falta às nações desavindas. Os Americanos, que já não a têm, confiam mais nos 'drones' e nos mercenários.

Mas já me cansa a história do 'lobby' judaico e do seu poder para determinar a política americana no Médio Oriente. Parece-me, em primeiro lugar, demasiado simples. É outro 'cherchez le pétrole' com que normalmente, com toda a boa consciência, misturamos 'alhos com bugalhos'. As 'meias-verdades' têm sempre mais capacidade de sedução do que a verdade pura e simples (para sermos mais ingénuos do que Pilatos...).

Qual é então a verdadeira força de Israel? Os judeus foram desde a Idade Média os proscritos da sociedade cristã. Hitler levou até às últimas consequências esse anti-semitismo implícito por causa do deicídio. Esse cerco continua agora que o resto do mundo se secularizou, à excepção, precisamente, desse mundo em parte bíblico ou corânico, em parte político, do judeu e do àrabe, na sua dimensão espelhar. Embora esse mundo seja actual, não é real (Deleuze). A infecção que ele constitui impede o resto do mundo, por sua vez, de se tornar real.

"É um espectro que anda à volta do mundo..."

 

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