Cupido
"Poros, o Caminho, a Superabundância, filho da Sabedoria... Após o festim, a Miséria veio mendigar, como se faz em dias de festa, e deixou-se estar perto das portas. Poros, ébrio de néctar, entrando no jardim de Zeus, pesado, adormeceu. A Miséria concebeu o propósito, devido à sua pobreza (aporia), de ter uma criança de Poros. Estendeu-se perto dele e concebeu o Amor."
"O Banquete" de Platão (citado e traduzido por Simone Weil em "A Fonte Grega")
Poros, que "ama a sabedoria, porque nasceu de um pai sábio e hábil", não se aproxima da Miséria, nem está sóbrio quando o Amor é gerado.
Simone vê nesta figura de Poros um dos nomes de Deus. Não é Poros que age, porque, na sua perfeição, não sente qualquer necessidade. A acção é toda da Miséria, a quem tudo falta, e o fruto dessa união é uma criança, que anda pelo mundo, sempre carente e andrajosa, "pela natureza da sua mãe".
Ratzinger terá dito que o vinho é o símbolo da superabundância e da alegria, tanto como o pão, para o homem, o é da necessidade.
Mas a perfeição parece difícil de suportar e Poros embriaga-se. Pelo que essa perfeição parece demasiado humana.
Por outro lado, se a herança materna é a pobreza, pelo pai, o Amor deverá ser sábio e hábil, conhecendo o valor da alegria.
Aí está como a figura de um Cupido traquina e de olhos vendados não pode representar bem este mito.
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