quarta-feira, 10 de julho de 2013

OS MONGES

Huesca la Magia

 

"O conceito de fraternidade proposto pelos revolucionários de 1789 inspirava-se, de facto, consciente ou inconscientemente, no modelo monástico e religioso da Idade Média ocidental."


"Levantar o Céu" (José Mattoso)

 

A acção dos revolucionários de 1789 podia inspirar-se no exemplo da antiga República Romana, mas de facto inaugurava algo de audaciosamente novo (audácia era o lema de um Danton inconsequente).

O espírito que movia esses homens já não era o espírito religioso da Idade Média. Um novo deus, sem transcendência, que soprava ao ouvido do homem, em mais um ciclo de orgulho e humilhação, entrara em cena com Newton, falecido havia pouco mais de meio século.

A passagem do filho de Deus a conquistador da Natureza conservou, como diz Mattoso, o 'modelo monástico e religioso' na sua ideia de fraternidade, uma das palavras fundadoras da Revolução Francesa. Mas a relação dos 'conquistadores' entre si não é uma fraternidade. Move-os o individualismo e a emulação recíproca.

Não durou uma geração essa irmandade dos devotos da causa da Humanidade. Os 'monges' da revolução foram sacrificados para que pudesse existir a sociedade. O oportunismo burguês que se seguiu à unção da guilhotina correspondeu, pois, ao instinto da vida.

De qualquer modo, foi preciso que a outra grande revolução, já no século vinte, fizesse a demonstração do que significa um absurdo que 'vinga' (pelo menos 70 anos).

Quando caiu a URSS, já não havia monges, nem - 'celà va sans dire' - fraternidade.

 

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