quarta-feira, 24 de julho de 2013

A VIDA SELVAGEM

"She was feeling rather exposed"
http://newslite.tv/2010/06/

Vi há dias na "Wildlife Tv" o que parece ser um novo passo na nossa compreensão das espécies selvagens.

A organização percebeu que dentro em pouco nem as crianças acharão graça às simples filmagens e às habituais cenas de violência animal. Os mais velhos, por sua vez, começarão, porventura, a pensar que as explicações de Sir David Attenborough estão a passar de moda. O meio está exausto e precisa de um 'uplifting' urgente.

A 'Wildlife' apareceu então com a ideia de tirar partido do digital para simular o que se passa no interior do bicho. Vemos, assim, por exemplo, a caveira ou a coluna vertebral, em momentos decisivos, como a corrida da chita ou a trituração de um esquilo na maxila alargada de uma serpente.

O espectáculo fascina, mas não deixa de ser chocante pensar que esta 'curiosidade' não é mais do que isso, e que o animal, acossado nas suas reservas naturais, depende desde há muito tempo desse tipo de 'voyeurismo' de que a televisão e o turismo fizeram um negócio muito rentável.

A digitalização vem lembrar a precariedade desse elo com a sobrevivência de tantas espécies. Doravante, o 'verdadeiro' animal selvagem é aquele que podemos 'dissecar' em imagens computacionais, como se esses seres fossem tão-só um pretexto para o nosso interesse supostamente didáctico.

Estamos, muito provavelmente, em vias de migrar de sistema de simulação, como diria Baudrillard. Os animais vivos no seu habitat serão, dentro de pouco tempo, muito menos interessantes do que as imagens das suas imagens.

 

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