De lens van Spinoza (Spinoza's Lens) | Jewish Historical Museum |
É a felicidade a própria virtude, como queria Spinoza? Certamente, mas não é uma ideia fácil, porque se confunde depressa o egoísmo e o prazer com a felicidade. O homem que dorme no pedestal da estátua comunica quase sempre tristeza (o que pode irritar, também, a indignação, porque não gostamos de ficar tristes). A criança que pede esmola dispensa angústia como o olhar do animal que se abate. Dessa força dos signos do sofrimento e da miséria, tiram muitos a sua salvação.
Pode imaginar-se o espectáculo do último pobre, ou do último sofredor, condenados por qualquer lei inexplicável a essa diferença irredutível. E bastaria isso para ver que toda a riqueza e toda a felicidade dependeriam do privilégio negativo desses homens. E se eles não existissem, haveriam de erguer-se templos em cada cidade e em cada casa à sua figura divina. Sem dúvida que era sob essa forma que todos preferiríamos que existissem. Por isso a ideia da igualdade tem um limite simbólico.
Mas a realidade é bem outra: antes de sermos injustos para os outros, somos injustos para nós mesmos. Daquilo que é sentido como uma necessidade inexorável todo o homem sabe tirar partido. O verdadeiro mal, porque é íntimo e divide o ser contra si próprio, é o que se atribui à vontade e à liberdade humana.
Que a liberdade se pode prezar mais do que o conforto provam-no povos inteiros e cada um de nós, nos melhores momentos da nossa vida. Não é verdade que os ciganos recusaram a integração, mesmo em troca do 'socialismo' – promoção bem real para eles, apesar de tudo? E não preferiram sempre os judeus a sua cidade em ruínas à protecção e à ajuda de Roma para a construir de novo? Adriano não compreendia esse orgulho inflexível dos israelitas.
Era o poder que o transtornava. Também ele persistia, como os novos sonhadores da unidade humana, em fazer os homens felizes à força.
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