sábado, 6 de julho de 2013

CULTURAS DA FORÇA



Na empresa isola-se, como em nenhum outro lado, a contradição que é essencial à nossa cultura.

Os direitos dos indivíduos, os valores da liberdade e da democracia têm uma insistente presença na linguagem, mas a correspondência prática esbarra sempre com uma lógica mais forte, no entanto, sujeita a denegações e ocultações, ou travestida nos termos da especialidade económica ou gestionária. Essa lógica é a da acção colectiva dirigida a um fim, que está sempre para além da própria empresa e que só um meio mais amplo explica.

Essa realidade está encoberta pela permanência da empresa e dos seus agentes no espaço público que nos permite considerá-la como objecto dum regime de propriedade e uma comunidade de trabalho.

A precaridade do emprego e o accionariato especulativo, por outro lado, contribuem para a desmaterialização e o desocultamento da empresa, revelando e pondo em xeque a sua natureza instrumental.

Ao mesmo tempo, ficam a descoberto o desperdício e a irracionalidade da organização, como se nos seus genes, estivesse sempre uma coacção essencial.

Como se lê em “O crepúsculo dos deveres”, de Gilles Lipovetsky:

"É por isso que o conteúdo particular do projecto (empresarial) conta muito mais do que a participação e a comunicação internas que permitem a sua realização. Mas esta finalidade é inconfessável, não pode ser reivindicada sem a anulação do processo participativo, o qual requer um objectivo superior a si próprio. Impossível admitir oficialmente que apenas conta o efeito de participação; a gestão que visa pragmaticamente a mobilização dos homens é obrigada a sacrificar o sentido. Daí o carácter parcialmente “manipulatório” da gestão pelos valores.”


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