"O tremendo empreendimento começou em Maio de 1508. O primeiro plano era o de simplesmente representar as figuras dos doze apóstolos nas lunetas e preencher o resto do espaço com decoração ornamental. Bramante tinha erguido um andaime na capela, e vários pintores com experiência na pintura a fresco foram trazidos de Florença. Já dissemos que Miguel Ângelo só sabia trabalhar sozinho. Começou por declarar que o andaime de Bramante era inútil e substuíu-o por outro da sua invenção. Quanto aos pintores florentinos que Francesco Granacci tinha recrutado para ele, Giuliano Bugiardini, Jacopo di Sandro, o mais velho dos Indaco, e Agnolo di Donnino, 'tomou-os de ponta' e mandou-os embora."
Romain Rolland
("Vie de Michel-Ange")
Bramante tinha urdido a teia para favorecer o sobrinho, Rafael. Contava que o mestre recusasse a tarefa que lhe fora cometida pelo papa, indispondo-se com Júlio II, ou se saísse mal, porque sempre dissera que não sabia de cores.
Era não contar com o orgulho e a auto-confiança de Miguel Ângelo. 'Não sabendo de cores', fez uma escultura a duas dimensões com as cores que podemos imaginar na escultura helénica. Os frescos da Sistina renovam toda a pintura do Renascimento, por causa desse ponto de partida.
A 'conversão' e o trabalho de andaime exigiram tudo de si. O que nos pode parecer orgulho ou vaidade é, afinal, uma das condições para a entrega do artista ser total e se reconhecer todo na sua obra.
É um dos casos em que a falsa humildade seria, realmente, frivolidade.
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