sábado, 21 de junho de 2014

SAIR DO PLANETARIUM

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(...) As relações da Antiguidade com o cosmos instauravam-se de outra maneira: na embriaguês. Ora, a embriaguês é a única experiência pela qual nós nos asseguramos do mais próximo e do mais longínquo, e nunca um sem o outro. Mas isso significa que o homem não pode comunicar em estado de embriaguês com o cosmos senão em comunidade. É a marca da ameaçadora confusão da comunidade moderna de ter esta experiência por qualquer coisa de insignificante que se pode rejeitar e abandonar ao indivíduo, que faz dela um delírio místico por ocasião das belas noites estreladas."

"Sens unique" (Walter Benjamin, citado em "Critique de la Raison Cynique")


Um céu recamado de estrelas, contemplado como se fosse a primeira vez, é um desses contactos com a Beleza que os Gregos ousavam pedir aos deuses duas ou três vezes apenas na vida.

É preciso entregarmo-nos, como quem mergulha num banho lustral, deixando no vestíbulo as sandálias e todas as armas (incluídas as intelectuais).

Essa é uma experiência próxima talvez do "delírio místico", mas não creio que o sentimento da comunidade, neste caso, seja um órgão especialmente dotado para a comunicação com o cosmos e para a certeza do perto e do longe.

Ao contrário da embriaguês individual, receio que a colectiva tenha sempre um desfecho desastroso (contrário aos astros).

 

 

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