quinta-feira, 5 de junho de 2014

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A.W. Schlegel (1767/1845)

 

"Tanto quanto a nossa independência, e até a continuação do nosso nome Alemão, estiverem tão seriamente ameaçadas, a nossa poesia talvez pudesse completamente entregar-se à eloquência."

(A.W. Schlegel, citado por E.Cassirer)

A liberdade fica segura apenas por esse advérbio imponderável, talvez. De que poesia está a falar o patriotismo de Schlegel? Temo que seja a do Quartel-General...

Claro que sempre surgirão poetas de ocasião para responder ao perigo que a todos ameaça. Não deixa de ser poesia 'encomendada'.

Em Dante, por exemplo, a causa do cristianismo está tão intricada nas formas da linguagem e nos sentimentos interpretados pelo poeta que a sua poesia não pode ser instrumentalizada. Só o que sai da forja da propaganda política, tornado irreconhecível, é que pode ser 'uma arma', como se disse da canção empenhada em Portugal.

O exemplo mais paradoxal, e que parece contrariar tudo isto é o caso do cineasta soviético Sergei Eisenstein. Algum do seu cinema parece propaganda que não hipoteca a liberdade artística. Mas há o impacto (que talvez seja eficaz, ou não; é ainda a tese de que a violência na televisão condiciona o comportamento, sobretudo, nos mais jovens) e o que fica depois dele.

Essa arte, que pretende meter-nos as imagens pelos olhos dentro para impedir qualquer distância crítica, é de facto prodigiosa em Eisenstein. Mas considero-a mais uma técnica (mesmo se é admirável) que uma verdadeira arte.

 

 

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