quinta-feira, 26 de junho de 2014

A MARCIANA

Simone Weil

 

"Alain, surpreendido com a sua falta de elegância e de feminilidade, apelidou-a de a 'Marciana' porque "não tinha nada de nós e julgáva-nos a todos soberanamente."

(in "Alain" de André Sernin)


Tal foi a primeira impressão que causou Simone Weil no seu mestre. O mesmo ser, que a certa altura do seu percurso espiritual procurou na passividade da matéria o modelo da obediência (ao Bem platónico e cristão) e da anulação da perspectiva egoísta, começou por marcar todos os que dela se tentaram aproximar com essa impressão de orgulho e de intransigência.

Pergunto-me se em todos os casos de 'santidade' não existirá, secretamente, essa raiz de orgulho, quanto mais não seja pelo reflexo do Bem ou da 'presença' do Cristo que distingue o que julga beneficiar deles. Parece-me certo que nenhuma humilhação sem a correspondente esperança ( fujo a empregar o termo pascaliano de 'aposta') terá qualquer efeito 'sobrenatural' (palavra weiliana se alguma é).

Thomas Nevin, na sua biografia de Simone, explica o seu orgulho (decerto, não apenas intelectual) pela relação privilegiada do povo judaico com o seu Deus. Simone era judia, 'não-assumida'.


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