A gigantesca estátua dourada de Mao Tsé-Tung – Observador |
"Mao: - E quando eu for para o Céu ter com Deus, dir-lhe-ei que actualmente é melhor ter Taiwan ao cuidado dos Estados Unidos.
Kissinger: - Ele ficará muito admirado de ouvir isso do Presidente.
Mao: - Não, porque Deus abençoa-vos a vocês e não a nós. Deus não gosta de nós [abana as mãos] porque eu sou um senhor da guerra militante e também comunista. É por isso que ele não gosta de mim. [Apontando para os três norte-americanos: Kissinger, George Bush e W.Lord ] Ele gosta de si, de si e de si."
("On China", Henry Kissinger)
Tudo é teatro nesta conversação. Jogo e rodeios ('going around the bush'). Winston Lord, um dos presentes, interpreta assim a lenga-lenga do 'Grande Timoneiro': "Na maioria dos exemplos, o significado mais amplo é evidente. Noutros, porém, pode não haver nada de particularmente significativo, ou podia acontecer que um homem algo senil tivesse estado a vaguear sem objectivo por um momento..."
No final de contas, para um céptico, todo a história da personagem, todo o seu poder se podia reduzir à imagem de um velho senhor da guerra, no estado patético que antecede a 'imortalidade'.
Mao parece ingénuo, mas sente-se acima disso. Quem poderia beliscar o ícone da Revolução?
Kissinger confidencia-nos uma pergunta do presidente: " - Têm alguma maneira de me ajudar a curar a minha actual incapacidade de falar claramente?"
É quase a "Sombra do Guerreiro" (Kurosawa): ele não precisa de 'falar claramente', nem sequer de estar lá. A sua sombra basta. Não precisa de 'presença de espírito'. Ele é espírito, o dos outros e a imagem dos outros, mesmo quando o homem se comporta como o triste objecto da adulação.
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